Quando me tornei Mãe
- Mih Moraes

- 15 de out.
- 3 min de leitura
Não sei se alguém realmente está preparada para ser mãe. A gente acha que entende, que sabe mais ou menos como vai ser, que vai repetir o que deu certo nas gerações anteriores ou fazer tudo diferente. Mas quando o instante chega — aquele instante em que a vida se anuncia dentro da gente —, não há manual, nem teoria, nem promessa que dê conta do tamanho do que vem.

Lembro do primeiro instante em que percebi que havia alguém crescendo em mim. Tudo parecia silencioso e, ao mesmo tempo, ensurdecedor. Era como se o universo tivesse parado para sussurrar: “a partir de agora, nada será igual”. E não foi.
Quando me tornei mãe, o mundo mudou de lugar dentro de mim. Não foi apenas um corpo que se transformou — foi a alma que se alargou, o tempo que se dilatou, o amor que ganhou novas formas e medos. Ser mãe me ensinou que o coração é elástico: ele se estica até caber o impossível, até abrigar uma vida inteira dentro dele.
Ser mãe foi como ver o mundo inteiro se reorganizar em torno de um novo eixo. Um eixo pequeno, frágil, pulsante. Um ser que dependia de mim, mas que, de algum modo misterioso, também me sustentava. Era como se minha própria existência tivesse ganhado uma nova gravidade.
O início foi confuso. Entre noites em claro e dias que pareciam não caber em vinte e quatro horas, descobri que o amor pode ser exaustivo. Que o cansaço físico é só a ponta de um iceberg emocional que a gente vai tateando aos poucos. Há medo, há culpa, há dúvida — e há, acima de tudo, uma entrega absoluta. Uma entrega que não é sempre doce, mas é sempre verdadeira.
Lembro das primeiras vezes em que o silêncio da casa pesava. Eu os observava dormir e pensava: “Sou responsável por esse pequeno universo”. E, na mesma hora, vinha aquele misto de desespero e gratidão. Desespero por não saber direito o que estava fazendo. Gratidão por poder fazer — por estar ali, viva, vivendo aquilo.
Ser mãe me virou do avesso, e foi do avesso que encontrei a minha força. Descobri que o amor também cansa, chora e dúvida — mas mesmo assim não desiste. Descobri que a maternidade não é só um gesto de doação, é também um mergulho profundo em quem eu sou, com todas as minhas imperfeições, culpas e renascimentos.
Há dias em que me vejo exausta, mas basta um olhar, um riso, um “mãe” dito com ternura para o eixo voltar ao lugar. Porque, apesar do caos, há beleza. Apesar do medo, há coragem. E apesar do cansaço, há amor — sempre amor — me sustentando.
O tempo passou, e percebi que a maternidade não é uma linha reta. É feita de curvas, retornos e encruzilhadas. A gente erra, acerta, tenta de novo. Aprende a ouvir, aprende a calar. Aprende, principalmente, que educar não é moldar: é acompanhar o florescimento de alguém, mesmo quando ele cresce para direções que não eram as nossas.
Ser mãe me fez revisitar minha própria infância. Vi minha mãe e minha avó sob outras luzes — mais humanas, mais falhas, mais reais. Entendi que o amor delas também foi tecido entre dores e silêncios, e que cada geração carrega em si um esforço de cura, um passo a mais no caminho de ser e deixar ser.
Hoje, quando olho para meus filhos — já adultos e adolescentes, com suas próprias ideias e caminhos —, percebo que a maternidade é um amor que se renova, mas também se solta. Que o mais bonito em criar alguém é aprender, aos poucos, a deixá-lo ir. É confiar que, mesmo distante, algo do nosso abraço permanece.
Ser mãe me ensinou que amor e liberdade não são opostos. Que proteger também é permitir. E que, no fundo, o que a gente faz é isso: ensinar a voar, mesmo com o coração querendo segurar as asas.
Ser mãe me fez mais humana. Mais inteira. Mais viva. E, no fundo, é isso: a maternidade não me completou, ela me expandiu. Eu não sou a mesma de antes, e não quero ser. Porque foi no instante em que me tornei mãe que aprendi, de verdade, o que é nascer de novo.
Ser mãe é, acima de tudo, um exercício de humanidade. E é nessa humanidade — imperfeita, cansada, mas imensamente viva — que encontro o meu maior milagre.







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