Como Matei Minha Querida Família | Resenha ☆☆☆☆
- Mih Moraes
- 2 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de mar.
Bella Mackie nos entrega em Como Matei Minha Querida Família um thriller diferente de tudo que você espera. Esqueça detetives geniais, mistérios que se desdobram em revelações explosivas ou vilões maquiavélicos escondidos em cada esquina. O que temos aqui é Grace Bernard, uma narradora tão carismática quanto cínica, que nos guia pela espiral de sua mente brilhante e moralmente distorcida.
O ponto de partida já é delicioso: Grace, encarcerada por um crime que não cometeu, decide narrar como, em detalhes, eliminou metodicamente os membros de sua própria família. Sim, você leu certo. Não há mistério sobre quem matou quem; a questão aqui é por que e como. E, claro, o humor ácido e a visão de mundo completamente niilista de Grace fazem dessa jornada uma leitura fascinante.
Logo de início, fica claro que Grace não busca redenção. Tampouco está interessada em conquistar nossa simpatia. Ela é brutalmente honesta, irônica e muitas vezes cruel, mas também irresistivelmente humana. A relação dela com sua família é uma bagunça emocional cheia de rancores, desprezo e pequenas vinganças que qualquer um pode, no fundo, identificar em algum nível – embora, claro, sem chegar ao extremo de Grace.
O mais surpreendente do livro é o quanto você se pega rindo em momentos totalmente inadequados. Bella Mackie é mestre em encontrar o cômico no trágico e nos fazer refletir sobre como o sistema social, as dinâmicas familiares e até mesmo o conceito de justiça estão carregados de hipocrisia.
Se você busca um thriller convencional, talvez este não seja o livro ideal. A história é mais uma sátira social afiada do que um suspense. A ação, por vezes, é preterida em favor de longas divagações de Grace, que podem cansar alguns leitores. Porém, para mim, essas reflexões foram justamente o ponto alto – um convite para olhar o mundo pelos olhos de alguém que, apesar de extrema, nos faz questionar nossas próprias escolhas e preconceitos.
Ao final, a pergunta que fica não é apenas "o que leva alguém a cometer assassinato?", mas também "o que fazemos com as frustrações, mágoas e injustiças que colecionamos ao longo da vida?". Grace escolheu o caminho extremo, mas o que realmente fascina é perceber o quão próximo de nós ela pode estar, mesmo com sua moral torta.
Como Matei Minha Querida Família é um prato cheio para quem gosta de narrativas ousadas, cheias de sarcasmo e com aquele toque sombrio que fica na sua cabeça por dias. E, afinal, quem nunca pensou (mesmo que só por um segundo) em “desaparecer” com um parente insuportável?
Dicas da Mih
Deixo aqui outros livros com a mesma temática e que podem te encantar também :)
Dias perfeitos e Suicidas - Raphael Montes
Raphael Montes é o mestre brasileiro do thriller psicológico. Em "Dias Perfeitos", ele cria um protagonista obsessivo que leva o conceito de "amor" a níveis perturbadores. Já "Suicidas" é mais sombrio, mas igualmente envolvente, com mistérios e reviravoltas de tirar o fôlego. Ambos têm aquela vibe sombria e niilista que fãs de Como Matei Minha Querida Família vão adorar.
Uma narrativa cheia de reviravoltas e personagens complexos. Amy Dunne, a protagonista, é brilhante, manipuladora e inesquecível. Flynn mergulha fundo nos aspectos sombrios do casamento e das relações humanas, com aquele toque de humor ácido que deixa o leitor desconfortavelmente fascinado.
Essa história nigeriana é uma combinação perfeita de humor e thriller. Korede vive à sombra da irmã Ayoola, que, por acaso, tem o hábito inconveniente de matar seus namorados. É uma leitura curta, mas cheia de tensão e críticas sociais.
Essa história nigeriana é uma combinação perfeita de humor e thriller. Korede vive à sombra da irmã Ayoola, que, por acaso, tem o hábito inconveniente de matar seus namorados. É uma leitura curta, mas cheia de tensão e críticas sociais.
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