Foi um péssimo dia | Resenha ☆☆☆☆
- Mih Moraes

- 18 de abr.
- 2 min de leitura
Atualizado: 31 de mai.
A infância tem cheiros e sabores que grudam na memória — cheiro de pano de prato molhado, sabor de bala Soft (aquela que matava, mas a gente chupava mesmo assim), som de risada misturada com bronca. "Foi um péssimo dia", mergulha nesse universo meio mágico, meio trágico, onde tudo parece meio sem sentido, mas faz todo sentido depois que a gente cresce.
Natalia escreve com uma leveza que não é superficial — é uma leveza que vem da dor digerida, da saudade que já não fere, mas que ainda pulsa. As histórias aqui não têm grandes acontecimentos. Não precisam. Porque são feitas do que realmente marca: uma briga besta com o irmão, um dia em que os pais não voltam do jeito esperado, uma amiga que desperta sentimentos novos, um tchaku feito de cano de PVC.
É a infância sem Photoshop. Com chineladas e benzeções. Com liberdade demais e proteção de menos. Com silêncios pesando mais que gritos.
A pequena Natalia que narra esses contos não entende tudo, e é justamente por isso que a gente entende tanto. Porque crescer é isso: sentir antes de saber o nome das coisas. E aprender, com o tempo, que nossas confusões também são nossas raízes.
Ler Foi um péssimo dia é como folhear um álbum de fotos antigo em que as imagens tremidas dizem mais que as bem posadas. É rir e engasgar. É lembrar da própria infância com estranhamento e ternura.
No fim, não foi um péssimo dia. Foi só um daqueles dias em que a gente começou a entender quem é.
DICAS DA MIH
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