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Impostora | Resenha ☆☆☆

Impostora” de R.F. Kuang me deixou com um gosto amargo e fascinante ao mesmo tempo. A autora, conhecida por suas tramas intensas e profundidade de crítica social, leva o leitor a um terreno desconfortável, onde a identidade, apropriação cultural e o peso da história pessoal se colidem de maneira brutal. A premissa do livro é, sem dúvida, instigante: a história de uma mulher asiática que, de maneira calculada, se apropria da narrativa de uma escritora negra, mexendo com questões poderosas de plágio, reconhecimento e falsidade.


Livro Impostora

O que me pegou logo de cara foi a complexidade da protagonista, que, apesar de ser envolvente em sua busca por validação, nunca conseguiu gerar uma conexão emocional genuína em mim. Ela é uma mulher cheia de nuances — cheia de inseguranças, ambições e falhas — mas, ao mesmo tempo, parece ser mais uma ferramenta da crítica que um ser humano com o qual eu poderia me identificar ou me preocupar. Isso não é necessariamente um problema; na verdade, a falta de empatia que senti pela personagem parece ser exatamente o ponto de Kuang. Estamos, no fundo, confrontados com uma protagonista que não é lá muito simpática e que, por isso mesmo, desafia nossas concepções de heroísmo e moralidade.


O estilo de Kuang também é afiado e direto, com um ritmo que oscila entre o incisivo e o arrastado. Em alguns momentos, a escrita brilha com uma inteligência quase impertinente, desafiando o leitor a se sentir desconfortável com as verdades que ela expõe. Mas, em outros, o tom se torna excessivamente repetitivo. A autora mergulha fundo nas questões de identidade e apropriação cultural, mas, por vezes, as reflexões se arrastam, parecendo mais um ensaio teórico do que uma história cativante. Isso foi o que me deixou um pouco perdida — queria mais desenvolvimento da trama, mais viradas narrativas e menos discurso.


Além disso, o livro aborda a questão da apropriação de vozes e histórias de maneira bastante interessante, mas nem sempre da forma mais acessível. Eu me vi me questionando, em diversos momentos, o quanto a crítica social que a autora deseja apresentar realmente avançava a história. Existem passagens que me pareceram mais sobre o conceito de "falsidade" do que sobre a real jornada da personagem, o que me deixou com a sensação de que a trama se perdia em sua própria proposta.


Em termos de tema e reflexão, “Impostora” é, sem dúvida, instigante. É um livro que exige que o leitor pense, questione e reexamine questões de autoria, identidade e pertencimento. No entanto, para mim, ele faltou em algo essencial: a empatia. Eu esperava uma conexão mais profunda com a protagonista, algo que me fizesse sentir mais próxima da sua luta ou da sua jornada. Em vez disso, o que encontrei foi uma análise profunda, mas distante, da própria ideia de ser 'uma impostora'.


No fim das contas, não posso negar que é uma leitura que provoca — e muito. Mas, ao mesmo tempo, me senti distante de sua mensagem, como se estivesse observando a história de longe, sem conseguir me envolver emocionalmente. Não é um livro ruim, de forma alguma, mas talvez não fosse exatamente o que eu esperava.


DICAS DA MIH

Deixo aqui outros livros com a mesma temática e que podem te encantar também :)


Esse clássico examina a questão da moralidade e do preconceito racial no sul dos Estados Unidos, sob o olhar de uma jovem que vê o mundo de sua cidade natal ser desafiado por um caso de injustiça. Embora o foco seja diferente de Impostora, a maneira como a narrativa trabalha com a construção de uma sociedade desigual e a luta contra a opressão tem uma vibração similar, questionando a verdadeira natureza da "impostura" em contextos sociais.


Se você gostou de como Impostora lida com questões de poder e controle, O Conto da Aia vai te prender. A distopia de Atwood, que critica a opressão das mulheres e explora a construção de identidades em sistemas totalitários, é uma leitura com forte crítica social e uma forte protagonista que, assim como a personagem de Kuang, lida com a manipulação e a perda de controle sobre sua própria narrativa.


A exploração de identidades, amor e os jogos psicológicos das relações humanas está muito presente neste livro. Kundera reflete sobre a natureza das relações pessoais e como nossas percepções e o jogo do "eu" se transformam ao longo da vida. Assim como em Impostora, há uma constante exploração da fragilidade e das construções da identidade, e uma visão da realidade que provoca o leitor a questionar o que é "real" e "autêntico".


A obra de Ferrante mergulha na complexidade das amizades femininas, na luta pela identidade e reconhecimento em um mundo onde as mulheres muitas vezes se sentem invisíveis. A trama gira em torno de duas mulheres, Lila e Elena, que competem e se apoiam ao longo de suas vidas, refletindo sobre o que significa ser reconhecida — ou ser "impostora" — em uma sociedade que define papéis para elas. As questões de identidade e os conflitos internos são profundos e entrelaçados, de forma semelhante a Impostora.

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