No último verão da State Street | Resenha ☆☆☆☆
- Mih Moraes

- 16 de abr.
- 3 min de leitura
Tem livros que a gente lê com os olhos, outros com o coração. Esse aqui... ah, esse eu li com a alma toda. Toya Wolfe nos leva pra um pedaço da Chicago que raramente aparece nas fotos de cartão-postal. A gente pousa direto na State Street, entre prédios de moradia popular, onde a comunidade é tudo o que se tem — e também tudo o que se perde.
A escrita da Wolfe é cinematográfica e, ao mesmo tempo, íntima. Parece que ela nos pega pela mão e diz: “vem cá, deixa eu te contar como era crescer aqui”.
A protagonista, Fe Fe, é uma menina negra de 12 anos, esperta, cheia de vida, observadora, que carrega o peso do mundo nas costas sem deixar de ser criança. A relação dela com as amigas, as descobertas, os silêncios, as violências veladas (e as bem gritadas também)... Tudo é retratado com uma ternura que corta. A autora tem o dom de colocar poesia onde a vida parecia árida.
Mas não se engane: esse livro não é só sobre perda. É também sobre resistência, sobre os laços que se formam quando tudo ao redor ameaça ruir, sobre a potência do feminino negro em meio ao caos urbano. É uma carta de amor à comunidade — com suas dores, sim, mas com muito orgulho também.
A linguagem é viva, cheia de ritmo, e mesmo quando fala de temas duros (racismo, violência, abandono estrutural), Wolfe nos oferece a beleza da empatia, da memória e da esperança. Terminei esse livro com o coração apertado e grato. Porque Toya Wolfe nos lembra que mesmo nas esquinas mais esquecidas pelo sistema, nascem flores. E elas têm nome, voz e história.
Vai por mim: leia com calma, com cuidado. E se der, leia com um café quente e o coração aberto.
DICAS DA MIH
Deixo aqui outros livros com a mesma temática e que podem te encantar também :)
Uma celebração polifônica da vivência de mulheres negras britânicas. A autora entrelaça as vidas de 12 personagens de forma magistral, com uma escrita livre, quase poética. Assim como Toya Wolfe, Evaristo mergulha na identidade, na comunidade e nos conflitos que nos atravessam enquanto crescemos e resistimos.
Uma adolescente negra testemunha a violência policial contra seu melhor amigo. A partir daí, sua vida vira do avesso — e a gente vai junto. É uma história sobre coragem, comunidade, e a importância de ter voz. Quem gostou da crítica social presente no livro da Wolfe vai se sentir em casa (mesmo com o coração apertado).
Ifemelu é uma jovem nigeriana que migra para os EUA e enfrenta o choque cultural, o racismo e as muitas camadas da identidade. É uma narrativa introspectiva, inteligente, que fala de pertencimento, memória e escolhas. Um livro que caminha com o mesmo passo firme e afetuoso que Wolfe imprime na sua obra.
Um clássico que nunca perde a força. A história de Celie, uma mulher negra no sul dos EUA no início do século XX, contada por meio de cartas. É doloroso e, ao mesmo tempo, profundamente esperançoso. Assim como Wolfe, Walker nos mostra a beleza que brota mesmo em solo duro.










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