Resenha E se eu morrer amanhã? - Filipa Fonseca Silva
- Mih Moraes

- há 3 dias
- 2 min de leitura
E se eu morrer amanhã? – Uma celebração ousada da liberdade feminina na terceira idade

Minha nota: ★★★★★
Autora: Filipa Fonseca Silva
Gênero: Ficção contemporânea / Humor / Romance maduro
Editora: TAG
Páginas: 184
Ideal para: quem ama histórias sobre mulheres maduras independentes, romances que rompem tabus sobre sexualidade na velhice e narrativas que equilibram humor, afeto e crítica social.
Antes de começar...“Este é daqueles livros que confirmam o que minha intuição sempre gritou: nunca há idade errada para florescer — e muito menos para dar trabalho.”
Helena chega como quem não quer nada: uma viúva de setenta e nove anos, gata de companhia, saúde impecável e aquela rotina pacata que costuma deixar os filhos tranquilos. Até que, numa distração doméstica, ela incendeia a sala — literalmente. O fogo, porém, não é nada perto da combustão emocional que vem depois.
Obrigada a mudar-se para a casa da filha, Helena se vê tratada como alguém à beira da demência. Só que, ao invés de entregar a cabeça baixa, ela solta uma bomba que desestabiliza a família inteira: tem uma vida sexual ativa. Muito ativa. De fazer corar neto, genro e quem mais achar que velhice é sinônimo de apagamento.
A partir daí, o romance se abre numa deliciosa confissão: Helena conta suas aventuras amorosas, suas descobertas tardias, e o pacto silencioso que firmou consigo mesma depois de quatro décadas de um casamento morno. Ela decidiu ser feliz enquanto o amanhã não chega — e essa simplicidade vira um manifesto.
Filipa Fonseca Silva faz mágica aqui. Constrói um enredo que mistura humor inteligente, crítica social e uma ternura que abraça sem pieguice. A narrativa é conduzida com aquele ritmo gostoso de “conto de comadre”, mas recheada de reflexões afiadas sobre etarismo, sexualidade feminina e a mania social de colocar as mulheres mais velhas na gaveta da invisibilidade.
Helena é uma personagem que te faz rir, pensar e reavaliar aquele vício de medir a vida pelo olhar dos outros. Ela reivindica o próprio corpo, os próprios desejos e a própria velhice — e essa atitude tem a força de um raio atravessando céu nublado.
No fim da leitura, fica uma sensação boa, como quando o sol bate no rosto depois de dias cinzentos: a certeza de que felicidade não é privilégio de quem ainda tem “a vida toda pela frente”, mas de quem decide viver de verdade, aos 20, aos 40 ou aos 79.
Esse romance é para quem gosta de livros que iluminam — não com moralismo, mas com humanidade. E deixa aberto aquele caminho doce para a próxima leitura que nos desafie a quebrar mais um tabu.









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